22.12.10

Não há como ler jornais velhos para se estar actualizado...

"Portugal não pode continuar nesta estagnação, nesta miséria de espírito. Ou nos educamos, ou seremos dentro em pouco um povo morto. A selecção natural não espera, age. Ou aperfeiçoa, ou elimina.
A nossa organização nacional é mentirosa, sem estabilidade, encobrindo um parasitismo desenfreado e inquietante. O mal nacional está aí à vista. Somos um povo intelectualmente atrasado um século, economicamente falido, moral e civicamente por educar, em que o sentimento de pátria e de vida nacional não se sobrepõe aos sentimentos de interesse individual (...)Por esses liceus fora e até pelos cursos superiores não se aprende, decora-se. O aluno não assimila, repete automaticamente, assimila apenas o invólucro verbal das ideias. Não adquire conhecimentos, mas a forma externa dos conhecimentos. A educação concebida e realizada neste espírito está a ser mais perigosa do que útil (...)Os partidos devoram a alma portuguesa. A ficção constitucional, existindo à custa da nossa ignorância e do nosso indolente desmazelo, recebe a força desse binário socialmente pelintra que é o nosso rotativismo político (...)
A inteligência era (em Portugal) um capital inútil, o único capital produtivo era a falta de vergonha e de escrúpulos. O sentido da vida era fúnebre, arrastado por um mau destino, para a falência em que nos afundamos definitivamente.(...) Neste mar de lama está em perigo de perecer, sem brio e sem vergonha, todo um povo que foi grande e forte.(...)O mal da minha terra não é a demagogia, é a inépcia (...) Em Portugal não há demagogia, falta-nos fanatismo cívico para isso. Em Portugal o que há é uma inverosímil colecção de idiotas. A demagogia é um mal que pode ser combatido, a imbecilidade essa é que é um inimigo invencível.
Desmanchar ilusões é reduzir o coeficiente de felicidade e diminuir a possibilidade de chegar à terra prometida. O homem só adquire a verdade à custa de uma desilusão(...)"


Manuel Laranjeira, 1908

Joel Costa, Questões de Moral

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