12.3.07

A Jangada do Medusa

"Tudo é revoltante e passivo - não há um traço de heroísmo ou de grandeza sobre o qual o olhar possa, por um momento, repousar: nada que indique vida e sensibilidade; nada de honroso para a humanidade..."


Théodore Géricault, "A jangada do Medusa" (1818-1819); Museu do Louvre, Paris.


"Cerimoniosamente, a grande tela de Géricault foi descida até a visão do Rei encontrar o olhar do pai embalando o seu filho nos braços.
Géricault viu o monarca saltando para a jangada, esforçando-se para manter o equilíbrio, os seus pés a escorregarem e a deslizarem por cima daquelas tábuas molhadas. O Rei de França passou para lá do pai evitando os cadáveres à sua volta, até entrar num abrigo improvisado, e depois fugir das sombras cadavéricas lá escondidas, que o tentavam agarrar, puxando, lutando, mordendo. O Rei cambaleou para fora e viu-se rodeado de um tumulto de homens rastejando deseperadamente em direcção ao Negro que agitava um pano roxo, que contrastava com os céus.
Uma mão agarrando aquele ombro, quente como um raio de sol. Alguém que ajudava o monarca a pôr-se de pé. Um braço esticado para o horizonte; Savingny voltava-se para ele e dizia... mas as suas palavras eram engolidas pelo vento que lançava ondas crúeis contra a quilha da jangada, enfunando a vela de uma forma que a dirigia na direcção oposta à do regaste e da salvação, precisamente como Géricault pretendera."

Arabella Edge, "O Deus da Primavera"

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